Carta de despedida

Oi, sou eu de novo! Eu não vim te pedir pra ficar, desta vez. Não... nem para que esquecesse meus defeitos e me prometesse infinitos, que ousasse mais, e demonstrasse mais, nem tudo que te peço sempre. 

Hoje eu vim te pedir um último café. Eu sei que nesse meio tempo tudo mudou, entre nossos almoços e jantares, aniversários e natais, tudo virou de cabeça para baixo. Não somos os mesmos e continuamos tão vivos.

Mas talvez, em mais um café, possamos nos reencontrar, e talvez nos apaixonemos, nos reconheçamos... Talvez em mais um café, você se conecte comigo outra vez e possamos reconstruir nossas pontes e iniciar uma nova vida, agora eterna.

Eu consegui pensar em tudo, só mais um café e tudo estará resolvido. 

Nossas diferenças nós podemos desconsiderar, jogar por debaixo das portas.

Só tem um problema... você detesta café, não é? Eu quase não me lembrei. Não haverá novas chances, nem band-aids. 

Eu também quase não me lembrei que existem infinitas possibilidades de vida para nós, sozinhos, não juntos. 

Acho que nos perdemos em nossos crescimentos, em nossos planos divergentes.

Acredito que foi o vício de nossos corpos entrelaçados que nos manteve reféns, em um quartinho que não nos cabe mais.

Nós crescemos tanto.

A certeza que me resta, após essa carta de despedida, é que nossas flores apodreceram. Das orquídeas que me deste, não sobrou uma sequer. 

Nosso jardim foi destruído.

Encerro com um adeus amigável. Que você reencontre paz de espírito, e que consiga replantar teu próprio orquidário. Eu desisti desta arte de cultivar flores. É inverno, novamente.